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Estudo do DEE/SPGG aponta desigualdade de gênero nas atividades ligadas ao campo no RS

Documento mostra população com faixa etária elevada, de maioria masculina e com poucas mulheres em posição de chefia

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capa estudo desigualdade de gênero dee

Predominantemente masculina e com faixa etária acima dos 55 anos são algumas das principais características da população ocupada com atividades relacionadas à agricultura, à criação de animais, aos trabalhos florestais e à pesca no Rio Grande do Sul. De acordo com estimativas de 2019, o Estado tinha 4,4% da sua população ocupada no âmbito rural, o que equivale a 498.410 pessoas, sendo 352.439 homens (71% do total) e 145.701 (29%) mulheres. O percentual está acima do registrado no total da população do RS (51% de mulheres e 49% de homens).

Este e outros dados sobre as características da população ocupada no âmbito rural estão no relatório técnico "Desigualdades de gênero dos ocupados com atividades ligadas à agricultura no RS", divulgado nesta sexta-feira (12/11) pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG). O material foi produzido pelas pesquisadoras Daiane Menezes e Mariana Lisboa Pessôa e pelo pesquisador Henrique Souza da Silva a partir de uma parceria com a Emater e com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) e nele foram utilizados dados do Censo Agropecuário, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Cadastro Único (CadÚnico), da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em relação à idade, o documento mostra que 59% das mulheres com atividades ligadas ao campo tinham 55 anos ou mais, sendo 30% entre 55 e 64 anos, 21% de 65 a 74 anos e 8% com mais de 75 anos. Considerando o total de mulheres no Estado, o percentual de pessoas acima dos 55 anos é de 36%. Entre os homens, chega a 55% o percentual de ocupados nos setores ligados à agropecuária com mais de 55 anos, quando o percentual de homens dessa faixa etária na população em geral não passa de 35%.

Quanto à raça/cor, a população branca é predominante entre os ocupados na agropecuária, tanto entre os homens (87%) quanto entre as mulheres (90%), sendo que os pretos e pardos representam 12% e 10% do total, respectivamente. O percentual de brancos no campo é superior ao registrado no total da população do Rio Grande do Sul, onde representam 78% entre os homens e 80% entre as mulheres.

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Pesquisa em Pauta I Desigualdade de gênero no campo

Predominantemente masculina e com faixa etária acima dos 55 anos são algumas das principais características da população ocupada com atividades relacionadas à agricultura, à criação de animais, aos trabalhos florestais e à pesca no Rio Grande do Sul. De acordo com estimativas de 2019, o Estado tinha 4,4% da sua população ocupada no âmbito rural, o que equivale a 498.410 pessoas, sendo 352.439 homens (71% do total) e 145.701 (29%) mulheres. O percentual está acima do registrado no total da população do RS (51% de mulheres e 49% de homens). Crédito: Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão

Agricultura familiar

Conforme o documento elaborado pelo DEE/SPGG, o Rio Grande do Sul conta com um total de 365.094 estabelecimentos rurais, sendo 293.892 relativos à agricultura familiar (80,5%). Considerando apenas esta modalidade, 12,2% dos estabelecimentos são chefiados por mulheres no Estado, abaixo do registrado no Brasil, onde 19,7% dos locais estão sob chefia de mulheres.

Quanto à idade dos produtores da agricultura familiar no RS, a faixa etária predominante é a que vai dos 45 aos 75 anos. Entre os homens o percentual de pessoas é de 72,1% enquanto entre as mulheres é de 67,2%. Em relação à raça/cor dos agricultores familiares, no RS a população branca representa 92,3%, enquanto no Brasil essa mesma faixa é de 43,4%.

"O percentual elevado de brancos na agricultura familiar no RS é reflexo tanto de sua estrutura racial tanto pelo fato de que a maioria dos estabelecimentos vinculados à agricultura familiar está localizada em municípios com predominância de colonização por imigrantes de origem europeia, como italianos, alemães e poloneses", ressalta a pesquisadora Mariana Lisboa Pessôa.

Escolaridade

Quanto à escolaridade dos ocupados em setores ligados à agricultura, o documento mostra que as mulheres de mais idade têm menor grau de instrução quando comparadas aos homens de mesma faixa etária, resultado que se modifica conforme são consideradas as mulheres e homens mais jovens.

Na faixa etária acima dos 75 anos, 9,6% das mulheres tinham menos de 1 ano de instrução e 90,4% contavam com Ensino Fundamental incompleto enquanto entre os homens da mesma idade 78,7% tinham Ensino Fundamental incompleto, 3,6% tinham menos de 1 ano de instrução, 12,5% tinham Ensino Fundamental completo e 5,2% tinham Ensino Superior completo.

Na faixa etária de 25 a 34 anos, por exemplo, 7,3% das mulheres tinham Ensino Superior completo e 34,6% contavam com Ensino Médio completo, enquanto entre os homens os percentuais eram de 10,4% e 31,1%, respectivamente.

Renda e Saúde

Quanto à renda per capita, o relatório técnico do DEE/SPGG indica que há uma menor concentração de pobreza entre os ocupados nas atividades agrícolas do que entre o total do Rio Grande do Sul, ou seja, menos pessoas ganham menos do que um salário mínimo por mês em relação ao total da população. No entanto, também há uma menor concentração de pessoas em famílias com renda per capita maior do que cinco salários mínimos na comparação com a totalidade.

Em relação à saúde, há uma diferença significativa entre homens e mulheres ocupados em setores ligados à agricultura que afirmam ter uma saúde muito boa. Enquanto para os primeiros o percentual é de 16,0%, para as mulheres é de 5,4%. Quando é considerado o total de mulheres ocupadas, o percentual chega a 16,8%.

No tema saúde mental, quando questionadas sobre depressão, as mulheres com a ocupação ligada ao campo foram as que mais responderam que se sentem assim "mais da metade dos dias" (12,1%), enquanto essa alternativa não foi citada pelos homens com o mesmo tipo de profissão. O percentual das agricultoras ficou acima do verificado no total de mulheres ocupadas, em que 6,7% disseram se sentir deprimidas mais da metade dos dias.

Violência e Representação Política

Conforme dados de 2019 em relação à casos de violência verbal, um percentual de 13,9% das mulheres com ocupação ligada ao campo foram ofendidas, humilhadas ou ridicularizadas na frente de outras pessoas, muito superior ao percentual de homens na mesma situação (2,7%) e do total de mulheres de todas as ocupações (9,3%). Quanto aos casos de violência física, nenhuma mulher afirmou ter sido agredida com tapa ou bofetada no período de 12 meses ou ainda ameaçada com faca ou arma de fogo. Em relação à violência sexual, 5,3% das mulheres com atividades rurais afirmaram que alguma vez na vida tinham sido vítimas de abuso sexual, contra 4,6% do total das mulheres do Rio Grande do Sul.

Em relação à representatividade política, em 2020 um total de 1037 agricultores foram eleitos para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, uma queda em relação a 2016, quando foram 1.178. Quando consideradas apenas as mulheres agricultoras eleitas para os mesmos cargos, o número caiu de 103 para 93 eleitas.

“Os dados do relatório técnico demonstram a importância de ações que incentivem o empreendedorismo rural e o acesso ao crédito por parte dessas mulheres, além de chamarem a atenção para a necessidade de um cuidado especial com saúde mental daquelas que têm ocupações ligadas à agricultura”, afirma a pesquisadora Daiane Menezes.

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Texto: Vagner Benites, Ascom/SPGG

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